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A ESTÉTICA DA MORTE (A)
“A morte é o espelho onde se vê o nosso espirito, a morte é o reflexo oco do nosso ser. Contemplei a límpida fonte e encontrei a fria e serena visão da morte!” FENERBACH
Tal como desde sempre, hoje morre-se. Ma não da mesma forma. Toda a dinâmica envolvente da morte foi-se alterando, moldando-se aos caprichos culturais daqueles que a dinamizam daqueles que a divinizam, até por todos aqueles que sempre a negaram. Uma reforma da morte é, simplesmente, a outra face de uma reforma da vida.
No séc. XVII, a morte era uma cerimónia pública, solene, lenta, processional. Era o próprio defunto que antevia e preparava a cerimónia, que juntava amigos e familiares que em silêncio ou rezando aguardavam que a morte chegasse. Era um momento revestido de uma dimensão espiritual dramática mas libertadora, enquadrada na perspectiva cristã reverente e carregada de grandeza pela misteriosa passagem da vida terrena para a vida eterna. Kant refere-se ao direito e à necessidade de admitir uma vida futura.
O culto dos túmulos e dos cemitérios é iniciado em plena época do romantismo, séc. XIX, em que a morte era sentida com paixão, exuberância, emoção, fazendo da morte uma cerimónia social de uma ostentação solene e luxuosa, impregnada de pranto dramaticamente histérico e cercado de negro. Esta perspectiva de morte centrada no social elege como protagonistas da morte não o próprio mas os outros. Assim, o moribundo vai gradualmente perdendo o direito de ser alertado acerca da gravidade do seu estado e da proximidade da sua morte. Inicia-se o processo de ocultação da morte, que se vai encrostando gradualmente até à negação da morte como um processo inevitável e irreversível.
“Insistimos sempre no carácter ocasional da morte: acidente, doenças, infecções, revelando assim nitidamente a nossa tendência para despojar a morte de todo o carácter de necessidade, para fazer dela um acontecimento puramente acidental. No fundo, ninguém acredita na sua própria morte ou, o que vem a ser mesmo, cada um, no seu inconsciente, está persuadido da sua própria imortalidade.” FREUD
# Colocado por PensarSardoal @ 17:46
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