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A POLÍTICA E O DIA-A-DIA [1]
Há dias, num daqueles momentos de abstracção em frente ao televisor, assisti por acaso a um debate que opunha jovens apolíticos (diziam-se) a outros que ironicamente se apresentavam (sentir-se-iam?) como grupo, militantes ou simpatizantes apenas, das diversas JUVENTUDES PARTIDÁRIAS existentes no país (no nosso). Mediado por uma senhora que insistia em tratar os presentes com a infantilidade própria de quem lida (mal) com atrasados mentais, fui subitamente assaltado por um sentimento de pena, depois fúria, que me impediu de desfrutar o mais-que-evidente caricato da situação e, pouco depois, me faz desligar o televisor.
Nos dias que correm (e correm mesmo, os dias, as pessoas, tudo à nossa volta), muitos são os que pensam que tudo se traduz numa fórmula simples em que uns (poucos) são eleitos para tomar decisões e outros (muitos mais) têm como única decisão eleger os primeiros de tempos a tempos. Chamam-lhe “democracia representativa” e deve ser. Uns escolhem livremente, outros representam a escolha da maioria. É isso a política. Basta ter 18 anos e estar na plena posse das suas capacidades mentais (ou não deixar que provem o contrário). Será apenas isso, a política?
O debate em causa não teria qualquer interesse (e porventura não terá tido) se não me tivesse feito pensar no significado intrinsecamente perigoso da palavra política (que como se sabe tem origem no grego POLITIKÉA, e que dizer a arte de governar a cidade). Ora, em tempos idos, esses (dos gregos), a cidade era uma realidade física circunscrita em que, entre outras, a muito menor densidade populacional permitia um sistema de democracia directo (ou que hoje chamamos assim). Ou seja, quem tomava decisões vivia paredes meias com quem os escolhia para tal, a discussão dos assuntos importantes tinha muito menos intermediários ( e ditos “especialistas”) e, provavelmente, não existiam motoristas, carros de estado, gabinetes, secretários e sub-secretários, enfim toda a panóplia de “instituições” que hoje representam aquilo que identificamos com o “sistema” e vive lá longe, numa espécie de OLIMPO ao qual se acede por uma alva e ampla escadaria, e se é revistado à entrada.
Nuno Vasco in LXJOVEM 2001
# Colocado por PensarSardoal @ 21:02
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