|
IR À LÃ E FICAR TOSQUIADO
Lá no alto da Serra do Cabril, se alguém deixasse sobre a pedra qualquer objecto esquecido, logo que se afastasse cerca de cinco passos, tudo que não fosse linho ou dinheiro, desaparecia, num instante, sem que ninguém visse como. Isto intrigava os visitantes que não conseguiam ver a agilidade das mouras.
Um certo rapagão, que julgava resolver tudo pela força, dispôs-se a ver como é que tudo desaparecia. Comunicou aos vizinhos e lá foi mostrar-lhes o seu destemor perante as manobras das mouras.
Chegados ao Cabril partiu encosta acima, tendo os mirones ficado junto à ribeira. Depositou na pedra uns velos de linha e ao lado deixou, como esquecido, um saco com um seixo dentro e dispôs-se a espreitar a tramóia. Para melhor poder observar tudo, afastou-se recuando, pé ante pé, até à distância crítica. Ouviu então um rosnar forte e cavo, e logo surge do outro lado da pedra, a cabeça enorme, medonha e arrepiante de uma serpente ameaçadora, a resfolgar como um vendaval.
Como um jacto potente do seu sopro sobre o saco, atira este, como uma bala, contra o valentão que tombou e rolou encosta abaixo, até parar no fundo da ribeira, sem conserto, perante o espanto dos curiosos que o esperavam.
Assim acabaram as prosápias de um valentão: foi à lã e ficou tosquiado!
# Colocado por PensarSardoal @ 19:45
0 Comentários!

0 Comments:
|
|