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Este texto/reflexão pretende ser uma espécie de REQUIEM pela participação activa dos jovens na política que, não é demais dizê-lo, é cada vez menor, esperando não cair num paternalismo “bacoco” e em bafientos lugares comuns.
Se os jovens não se interessam pela política activa alguém é o culpado e, como em quase tudo, “a culpa é de todos, a culpa não é de ninguém”. A responsabilidade desta escassez participativa é, em primeiro lugar, dos próprios políticos e, em especial, dos políticos ditos jovens, “engravatados” e cada vez mais afastados da realidade da juventude e dos seus problemas concretos: educação, trabalho, habitação, não sendo, portanto capazes de os representar, até porque, salvo raras excepções, não têm os mesmos problemas que o resto dos jovens.
A culpa é igualmente das associações de estudantes que, por deficiência própria, não são capazes de atrair mais gente e congregar novas ideias. Por último – lá está a universalidade da culpa – mesmo atendendo a estes problemas, a falta de participação corresponde a um alheamento gritante, não justificável unicamente por estas questões. De facto, os jovens estão cada vez mais interessados na conclusão rápida do curso, geradora de concorrência feroz na escola e no trabalho, do género “não ando aqui a brincar, não há tempo a perder”, desligando-se de algum voluntarismo e associativismo, do trabalho em prol da comunidade.
A falta de dinamismo torna-se particularmente grave quando entra na espiral viciosa: quem faz e participa desinteressa-se rapidamente, porque não quer trabalhar para o boneco, ou seja, sente-se mal quando organiza alguma coisa e ninguém aparece (pau de dois bicos: ou era desinteressante ou ninguém estava interessado), por outro lado, se toda a gente deixa de fazer, surge galopante o vazio de ideias, surgem rótulos do estilo “geração rasca” e compromete-se o futuro criando-se uma geração pouco interveniente e activa. No entanto, o panorama não catastrófico nem irremediável; junte-se um pouco de consciencialização cívica com uns quantos obstinados e temos um ensaio de panaceia.
Longe de mim querer que todos os jovens se interessassem por política - cada um escolhe aquilo que fazer – ou até que se associassem (o que, em boa verdade, seria fantástico). Mas não fazer, deixar para outro pensar, ficar à espera e depois reclamar, não é definitivamente, solução. A política até pode ser aquilo que dela quisermos fazer: partidos políticos, associações juvenis, associações ambientais, direitos humanos, direitos dos animais, associações de moradores, direitos dos emigrantes, etecetera e tal; basta juntar as pessoas e ideias, espírito participativo e voilá.
No fundo, intervir na sociedade e participar nas decisões que nos afectam – sabendo, de antemão, que os nossos direitos enquanto jovens são constantemente “atropelados” – serve para fazer coisas, denunciar situações, manifestar a nossa condição de cidadãos e responsabilizar directamente, seja no voto, no protesto ou na apresentação de alternativas, quem não pensa na juventude e quem diz mal só por dizer (assim como quem não quer a coisa).
Rui Santos in LX JOVEM 2001.
# Colocado por PensarSardoal @ 19:04
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